28 junho, 2011

Especialista garante que a construção do espigão deverá afastar os tubarões

O aparecimento de um tubarão lixa com mais de dois metros de comprimento na praia da Ponta da Areia foi considerado algo inusitado pelo zoólogo Nivaldo Magalhães Piorski, 43 anos, professor do Departamento de Oceanografia e Liminologia (Deoli) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “É difícil que esse tipo de animal tenha procurado águas mais rasas. Tubarões são comuns na costa de São Luís, mas sempre buscam águas mais profundas”, argumenta.

O tubarão foi encontrado na manhã do último domingo num curral natural formado por pedras nas proximidades da Praça do Sol. O animal estava morto e foi cortado em pedaços que foram distribuídos entre moradores de rua que estavam no local. O chefe da guarnição do corpo de salva vidas da Guarda Municipal, CDA Pereira, levantou a suspeita de que o animal tivesse sido atraído devido à construção do espigão. As obras aumentaram a quantidade de cascalho e conchas atraindo mais peixes menores.

Nivaldo Piorski reduz a influência do espigão para atrair tubarões até à praia e lembra que o animal costuma buscar moluscos para se alimentar. De acordo com o especialista, a construção do espigão pode contribuir para afastar os animais uma vez que provocará um acúmulo de areia na área afastando os animais que preferem águas mais profundas, como os tubarões. Ele acredita que o bicho pode ter sido pescado, por engano, em alto mar e depois abandonado próximo ao litoral.

Outra hipótese sustentada seria o ferimento do animal por um navio ou outro tipo de embarcação. A teoria é defendida pelo guarda vida Dionaldo Filho, 45 anos, que trabalha há 20 anos na função. “Esses bichos vão atrás de restos de alimentos que são jogados dos navios, uma hélice pode ter atingido ele”, sugere. Como o corpo da criatura não está mais disponível para estudo, Nivaldo Piorski afirma que não é possível determinar com precisão as causas que trouxeram o animal a uma área de banhistas.

Contudo, não há dúvidas sobre a presença de tubarões nas águas da capital, em regiões mais profundas como a formada após canais e linhas de rebentação. O zoólogo explica que a descarga dos rios propicia uma abundância de alimentos para peixes pequenos diversos o que atraia os tubarões. Ele destaca que a maior frequência ocorre nas praias do Araçagi e São Marcos, onde alguns tubarões podem ser fisgados com linha, só que seriam animais de 50 cm a 70 cm.

Nivaldo garante que as criaturas maiores se mantêm distantes, em águas mais profundas, após a linha de rebentação das ondas. Ele esclarece que a orla de banho do litoral são-luisense é mais horizontal do que inclinada, diferente do que ocorre em Recife (PE) onde a inclinação é acentuada o que propicia os ataques de tubarões. “Eles existem em São Luís e fazem parte da cadeia alimentar. Não devem ser mortos de forma indiscriminada sob o risco de desequilibrar o meio ambiente”, declara.


Espigão atrai curiosos

De acordo com a Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra), as obras do espigão já avançam mais de 300 metros em relação ao ponto inicial. Os serviços foram iniciados em abril deste ano e a conclusão está prevista para o mês de outubro. O espigão evitará a erosão na orla que tem ameaçado bares e prédios localizados à beira da praia. A construção da estrutura tem despertado a atenção de curiosos que passam pelo local.

O pedreiro Luís Carlos Sousa, 37 anos, sempre aproveita o percurso do trabalho até a casa para fazer uma parada e admirar a obra. Ele passa pelo local durante a manhã e ao fim da tarde. O homem conta que outras pessoas, às vezes de carro ou mesmo a pé, fazem a mesma coisa. “É interessante essa construção dentro da água, eu nem sabia direito o que era, mas sempre parava para ficar olhando”, relata.

Luís explica que além da luta do homem com a natureza, a paisagem também chama a atenção de quem visita o local. Ele opina que deveria ser construído um píer ou outra estrutura pública para as pessoas admirarem o litoral após a conclusão da obra. Questionado sobre a presença de tubarões devido à construção da estrutura, o homem disse que visita o local apenas de passagem e que não sabia que um tubarão tinha sido encontrado nas proximidades.

A reportagem entrou em contato com a Sinfra para saber se a obra poderia trazer impactos ambientais como atração de tubarões para a orla onde ficam os banhistas. O órgão, através da assessoria de comunicação, informou que a obra está licenciada pelo Meio Ambiente e que possui Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) apresentados e aprovados.

MEMÓRIA

 
Outros aparecimentos

Em janeiro deste ano um tubarão da espécie Flamengo foi encontrado na Praia do Caolho por garçons de um bar local. O bicho estava encalhado e morreu momentos depois de ser avistado pelos trabalhadores. Relatos de achados e até de ataques de tubarão são comuns em São Luís. Em quase vinte anos quatro casos já foram confirmados na capital maranhense, além de outras ocorrências de mortes e mutilamentos com suspeita não confirmada.

No século passado, o Matadouro Modelo, existente no bairro da Liberdade, era apontado como fonte para atração dos animais. Nos livros “Esporte: Um Mergulho no Tempo” de Dejard Martins, “Remo no Maranhão” de Leopoldo Dulcio Vaz, e “Antiga e Saudosa São Luís do Maranhão: Uma Viagem ao Passado” de J. R. Martins é feita associação entre o logradouro e o medo aos animais.

Nos dois primeiros são mencionados festivais de regatas no Rio Anil onde havia o receio dos participantes ao ataque de tubarões pela subida das criaturas para “desfrutar dos dejetos despejados pelo Matadouro Modelo”. Enquanto no terceiro livro a menção aparece ao destacar, em 1920, a travessia do Rio Anil à Praia do Jenipapeiro no São Francisco. “Naquelas imediações diziam haver muito tubarão, pois o Matadouro Municipal funcionava um pouco mais à frente, depois da Camboa”.







Nenhum comentário:

Postar um comentário